A guerra entre Israel e o movimento extremista Hamas completou mais de 10 meses, deixando um rastro devastador na Faixa de Gaza. Enquanto o mundo assiste de longe, os moradores do enclave palestino vivem uma realidade marcada pelo medo constante e pela incerteza sobre o futuro.
Sobrevivência em Meio ao Caos
Walaa Najeh Hassan, uma ativista comunitária de 30 anos, vive na cidade de Deir Al-Balah, localizada no centro de Gaza. Para ela, não há mais lugar seguro. “De repente, nossas vidas pararam, e uma guerra feroz e letal irrompeu. Fomos deslocados, fugindo da morte, dezenas de vezes”, relatou Walaa. Cada dia é uma luta pela sobrevivência, com bombardeios frequentes e sem aviso. “Você se descobre vendo chamas e escutando o som da explosão, que perfura seus ouvidos. Depois, os barulhos de gritos, as ambulâncias, os feridos, os mortos e muita dor.”
Em 7 de outubro de 2023, um ataque do Hamas contra o sul de Israel desencadeou a retaliação das Forças de Defesa de Israel (IDF). Desde então, a guerra se intensificou, deixando mais de 40 mil mortos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Walaa, como muitos outros palestinos, viu amigos e familiares perderem a vida. “Na minha visão, todos os mortos eram meus irmãos, meus familiares e amigos”, disse, com tristeza. Ela perdeu dois primos na guerra e viu o marido perder as pernas em um ataque. “Nosso vizinho foi martirizado, com 20 membros de sua família”, acrescentou.
A Realidade do Conflito
Khalil Abu Shammala, de 59 anos, também compartilha essa realidade sombria. Refugiado em Khan Yunis, no sul de Gaza, após ser forçado a abandonar sua casa na Cidade de Gaza, ele descreve o que vê como um genocídio em curso. “Essa é a descrição correta para o que enfrentamos, pois ninguém pode saber quem será o próximo”, afirmou. Abu Shammala acredita que, além dos 40 mil mortos, outras 40 mil pessoas estão soterradas sob escombros ou escondidas na rede de túneis da região. “A maioria dos mortos nos bombardeios é formada por civis, crianças e bebês”, lamentou.
O cenário é de terror e desespero. O som incessante dos drones israelenses que sobrevoam Gaza em busca de alvos é uma presença constante. “Israel bombardeia todos os lugares de Gaza. Não existe um único local seguro”, disse Abu Shammala.
A Busca por uma Solução
As tentativas de negociação de um cessar-fogo, mediadas por Egito e Catar, são vistas com ceticismo por muitos. Abu Shammala acredita que essas negociações dificilmente resultarão em paz duradoura. “Creio que eles afirmarão que as negociações entraram em colapso. Benjamin Netanyahu (premiê de Israel) não quer assinar um acordo, por uma série de razões”, opinou.
Enquanto isso, o sofrimento da população de Gaza só aumenta. Volker Türk, alto comissário da ONU para os direitos humanos, destacou a magnitude da destruição causada pelos bombardeios israelenses. “A magnitude da destruição de casas, hospitais, escolas e locais de culto pelo Exército israelense é profundamente chocante”, afirmou.
Além da guerra, Gaza agora enfrenta outro desafio: na última sexta-feira (16/8), foi registrado o primeiro caso de poliomielite em 25 anos na região, evidenciando a crise humanitária que se agrava a cada dia.
O Futuro Incerto
Para Walaa e Khalil, o futuro é incerto. A cada dia, a luta pela sobrevivência continua, em meio a bombas, perdas e sofrimento. A guerra transformou suas vidas em um pesadelo, do qual não conseguem acordar. “Eu apoio qualquer acordo que detenha a guerra”, disse Walaa, expressando um desejo comum entre os palestinos: o fim da violência e o retorno à paz.
Enquanto a comunidade internacional debate soluções, a população de Gaza segue vivendo sob as bombas, aguardando o dia em que poderão reconstruir suas vidas em um cenário de paz e segurança.