A eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos está tomando um rumo inesperadamente sombrio. No último domingo, 15 de setembro de 2024, um incidente que poderia ter resultado em uma tragédia reforçou a crescente sensação de insegurança em torno do atual ciclo eleitoral. Um homem armado com um rifle foi visto perto do clube de golfe de Donald Trump, ex-presidente e atual candidato republicano, enquanto ele jogava em West Palm Beach, Flórida. A rápida ação do Serviço Secreto impediu uma tragédia iminente, e o suspeito, que fugiu inicialmente em um SUV, foi capturado mais tarde pelas autoridades. A descoberta de uma arma de fogo estilo AK-47, mochilas e uma câmera GoPro indicou um possível plano de assassinato documentado.
Esse ataque, aparentemente mais uma tentativa de eliminar Trump, reflete um padrão alarmante de violência política que voltou a assombrar os Estados Unidos. A nação, ainda se recuperando dos choques do passado, entra novamente em um período eleitoral cercado por tensões extremas e receios de desordem civil. Este novo episódio ocorre exatamente 50 dias antes da eleição presidencial, mergulhando a política americana em um terreno desconhecido e instável.
O crescente risco de violência na política americana
A tentativa de ataque em West Palm Beach não é um evento isolado. Apenas nove semanas antes, Donald Trump foi vítima de uma tentativa de assassinato em um comício na Pensilvânia, onde uma bala atingiu sua orelha, e um apoiador foi fatalmente baleado. O episódio gerou discussões intensas na mídia, mas, surpreendentemente, desapareceu rapidamente do ciclo de notícias. Uma semana depois do atentado, Joe Biden retirou-se da corrida presidencial e foi substituído pela vice-presidente Kamala Harris, um desenvolvimento político significativo, mas que pouco abalou a percepção do público em relação ao ex-presidente Trump.
É revelador que, apesar do clima de violência e da gravidade dos eventos, a campanha de 2024 continua a ser tratada por alguns como um espetáculo. A tentativa de assassinato de Trump, em Butler, quase se tornou uma nota de rodapé nas discussões públicas, com comentaristas e políticos minimizando o impacto de um ato de violência tão significativo. Sebastian Gorka, ex-assessor de Trump, resumiu essa frustração durante a conferência Moms for Liberty, criticando a maneira como a narrativa se dissipou rapidamente na mente do público.
A normalização da violência política
A violência na política americana está longe de ser uma novidade, mas seu ressurgimento recente assusta pela intensidade. Desde a marcha da supremacia branca em Charlottesville, que levou à morte de uma ativista, até a invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, o país tem vivido uma sucessão de eventos que mostram a fragilidade do tecido democrático. Políticos e figuras públicas se tornaram alvos de ameaças reais e virtuais, como demonstrado no documentário “O Último Republicano”, que revela mensagens de ódio direcionadas ao congressista Adam Kinzinger, crítico de Trump.
O aumento do clima de hostilidade tem se intensificado à medida que as eleições de 2024 se aproximam. Fake news e discursos inflamados permeiam o debate público, levando a reações violentas e atos de desespero. No Ohio, por exemplo, falsas alegações de que imigrantes haitianos estavam comendo cães e gatos provocaram ameaças de bomba e o fechamento de escolas, mostrando como a desinformação pode gerar consequências devastadoras.
É verdade que o que aconteceu naquele dia na Pensilvânia deve ser lembrado, não por razões partidárias, nem como evidência de que Trump é protegido por Deus, mas por causa do que ressurgiu: uma nação com uma longa história de violência política que se prepara para o que foi apelidado de “a caixa de pólvora da eleição”.
O perigo e a instabilidade tornaram-se uma característica e não um bug da vida política dos EUA. Uma marcha da supremacia branca em Charlottesville, Virgínia, que levou à morte de um ativista dos direitos civis. Uma multidão de apoiadores furiosos de Trump invadiu o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021. Um ataque de martelo ao marido da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, Paul, em sua casa. Inúmeras ameaças de violência a membros do Congresso e juízes.
A polarização extrema e o futuro das eleições
As pesquisas de opinião sugerem que o apoio à violência está crescendo, com um número preocupante de americanos considerando a violência uma resposta legítima no cenário político. Uma pesquisa da Universidade de Chicago, conduzida em junho de 2024, revelou que 10% dos americanos adultos apoiam o uso de violência contra Trump, enquanto 6,9% são a favor da violência em apoio ao ex-presidente. O dado mais alarmante, no entanto, é que apenas um dos dois principais partidos políticos, o Republicano, parece incentivar e até normalizar retóricas inflamadas.
Trump, em especial, tem sido um catalisador desse discurso agressivo. Desde encorajar ações violentas contra manifestantes em seus comícios, até zombar do ataque ao marido de Nancy Pelosi, ele tem utilizado uma retórica que instiga a violência. Recentemente, ele chegou a sugerir que ladrões de lojas deveriam ser baleados e alertou sobre um “banho de sangue” caso não seja eleito.
A escalada do discurso violento vem acompanhada de uma desconfiança institucional. Trump continua a contestar os resultados das eleições de 2020 e se recusa a garantir que aceitará o resultado de 2024. Com isso, ele lança sombras sobre o processo eleitoral, preparando o terreno para uma possível crise de legitimidade após a votação. A plataforma de mídia social X, de Elon Musk, também desempenha um papel importante na disseminação de desinformação, ampliando o potencial de instabilidade.
À medida que as eleições de 2024 se aproximam, os Estados Unidos enfrentam um cenário que mescla incerteza e violência iminente. A tentativa de assassinato de Donald Trump é um lembrete sinistro de que a política americana está em um ponto crítico. O que antes parecia improvável – ataques violentos contra líderes políticos, desestabilização do processo eleitoral e aumento da retórica agressiva – tornou-se uma realidade inegável.
O perigo não está apenas nas figuras públicas, mas na própria democracia americana, que enfrenta desafios sem precedentes. A normalização da violência, a desinformação desenfreada e a polarização política criam uma mistura explosiva. O caminho à frente é incerto, mas o que é claro é que a nação precisa de medidas urgentes para restaurar a confiança nas instituições e garantir que o processo eleitoral ocorra de maneira pacífica e democrática.