As mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais evidentes, e os sinais de sua gravidade podem ser observados em diversas partes do Brasil. Nas cidades de Uberlândia, Uberaba e Ituiutaba, por exemplo, a fumaça das queimadas é onipresente, trazendo à tona uma realidade alarmante que muitos moradores não conseguem ignorar. O cheiro constante de matéria vegetal queimada e o céu perpetuamente embaçado por nuvens tóxicas são evidências palpáveis de que a crise climática já está entre nós. Para aqueles que ainda conseguem negar ou minimizar a situação, resta apenas parabenizá-los por sua impressionante capacidade de “tapar o Sol com a peneira”.
O cenário atual dessas cidades é apenas uma amostra de um problema muito maior que afeta o Brasil como um todo. Regiões como a Amazônia, o Pantanal e áreas urbanas como São Paulo e Brasília também estão envoltas em uma pluma de fumaça densa, que cobre aproximadamente 60% do território nacional. Esse fenômeno é uma consequência direta de queimadas intensas e desmatamento, mas talvez o aspecto mais angustiante de tudo isso seja a aparente apatia de grande parte da população. Parece que muitos ainda não compreendem a magnitude da crise que estamos enfrentando.
Essa falta de conscientização pode ser atribuída, em parte, a uma memória coletiva limitada, resultado de um processo de urbanização acelerada e de uma desconexão com a terra. O Brasil do século 21 é fruto de duas transformações brutais: a urbanização vertiginosa e a ocupação desenfreada de áreas de “fronteira agrícola”, a exemplos do cerrado. Esses processos resultaram em milhões de pessoas que conhecem o lugar onde vivem há apenas uma geração, ou menos. Esse desenraizamento contribuiu para uma desconexão com a terra e com os ritmos naturais, dificultando a percepção do quanto o clima e o meio ambiente mudaram em tão pouco tempo.
O impacto das mudanças climáticas é amplificado pela ausência de uma memória visceral, capaz de conectar as pessoas com as paisagens e ecossistemas do passado. É por isso que precisamos urgentemente resgatar essa memória para conscientizar as novas gerações. Não há argumento de negacionismo climático que resista diante de quem se lembra de como era a terra onde seus avós viveram. Aqueles que têm a oportunidade de conversar com idosos, como avós, tios e tias, sobre as mudanças no ambiente ao longo das décadas, rapidamente percebem a gravidade da situação.
Perguntar a essas pessoas mais velhas sobre as plantas, os animais e até os tipos de peixe que eram comuns em sua infância, mas que agora desapareceram ou estão se tornando raros, pode ser uma maneira poderosa de despertar essa consciência. Comparar fotografias antigas de uma região com as imagens atuais também é uma maneira visualmente impactante de perceber o ritmo alarmante das mudanças que ocorreram em apenas uma ou duas gerações.
Essa crise climática é real e está acontecendo agora. Não é mais possível ignorar os sinais que estão ao nosso redor. A fumaça que envolve nossas cidades, as espécies que estão desaparecendo e os ecossistemas que estão sendo destruídos são alertas claros de que precisamos agir. E para que isso aconteça, devemos primeiro lembrar como era o mundo antes de chegarmos a este ponto.