No segundo trimestre de 2024, o número de brasileiros que estavam à procura de emprego há mais de dois anos apresentou uma queda significativa de 17,3% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Esse recuo é uma notícia positiva para o mercado de trabalho brasileiro, uma vez que representa o menor contingente de pessoas nessa situação desde 2015, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (Pnad-C) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar da melhora, 1,7 milhão de pessoas ainda se encontravam nessa condição no segundo trimestre deste ano. Esse número, embora menor do que o registrado nos últimos anos, continua representando uma parcela considerável do total de desempregados no país, especificamente 22,4%.
Fatores Contribuintes para a Queda no Desemprego de Longa Duração
A pesquisadora do IBGE, Adriana Beringuy, atribui essa redução ao dinamismo do setor de serviços, que historicamente é responsável por uma grande parte das ocupações no Brasil. Segundo Beringuy, “boa parte da ocupação no Brasil é gerada via serviços. E aqueles serviços de menor complexidade, que exigem nível de instrução não tão elevado, acabam possibilitando uma absorção maior de perfis diversos de trabalhadores”. Esse cenário permite que trabalhadores que estavam há mais tempo fora do mercado consigam ser reabsorvidos, reduzindo o número de pessoas que buscam emprego por períodos prolongados.
Queda Generalizada na Duração da Busca por Emprego
Além da diminuição no número de pessoas que buscam emprego há mais de dois anos, o levantamento do IBGE apontou recuos em outras faixas de duração de desemprego. O número de pessoas procurando trabalho há mais de um ano e menos de dois anos diminuiu 15,2%, enquanto aqueles que buscam emprego entre um mês e um ano tiveram uma queda de 11%. Para os que estão desempregados há menos de um mês, a redução foi de 10,2%.
Esses números indicam uma tendência de melhoria no mercado de trabalho, com a diminuição do tempo que as pessoas permanecem desempregadas. No entanto, a maior parte dos desempregados ainda se concentra na faixa de pessoas que estão procurando emprego entre um mês e um ano, representando 47,8% do total.
Desigualdades de Gênero no Mercado de Trabalho
Embora o cenário geral do desemprego tenha apresentado melhoras, a análise dos dados por gênero revela que as desigualdades persistem. No segundo trimestre de 2024, a taxa de desemprego entre as mulheres foi de 8,6%, a menor desde o quarto trimestre de 2014, quando foi registrada em 7,9%. Contudo, essa taxa ainda é significativamente superior à dos homens, que ficou em 5,6% no mesmo período.
O nível de ocupação das mulheres, que é o percentual de pessoas empregadas em relação ao total de mulheres em idade de trabalhar, atingiu um recorde histórico de 48,1% na série iniciada em 2012. Apesar desse avanço, o nível de ocupação dos homens é substancialmente mais alto, alcançando 68,3%, o que indica uma diferença de 20 pontos percentuais em relação às mulheres.
A desigualdade também se reflete nos rendimentos. No segundo trimestre deste ano, o rendimento médio real habitual das mulheres foi de R$ 2.696, enquanto os homens ganharam em média R$ 3.424, uma diferença de R$ 728. Essa disparidade salarial é um reflexo das persistentes barreiras que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho, incluindo a segregação ocupacional e a sobrecarga de responsabilidades domésticas.
Implicações e Desafios para o Futuro
A queda no número de pessoas que buscam emprego por mais de dois anos é um sinal encorajador para o mercado de trabalho brasileiro, indicando uma recuperação econômica gradual e a reabsorção de trabalhadores que estavam fora do mercado há muito tempo. No entanto, os desafios permanecem, especialmente no que diz respeito à desigualdade de gênero e à qualidade das oportunidades de emprego disponíveis.
Para consolidar essa tendência positiva, é crucial que o país continue a promover políticas de inclusão no mercado de trabalho, que levem em conta as especificidades de diferentes grupos, como mulheres, jovens e trabalhadores de baixa escolaridade. Além disso, a promoção de empregos de qualidade, que ofereçam salários justos e condições de trabalho dignas, é essencial para garantir que a recuperação econômica seja sustentável e beneficie a todos.
A redução do desemprego de longa duração é apenas uma parte do desafio. A economia brasileira precisa continuar a crescer e se diversificar para absorver a força de trabalho de maneira mais equitativa, garantindo que todos tenham a oportunidade de participar ativamente no mercado de trabalho e contribuir para o desenvolvimento do país.