O conflito atual entre Israel e o Hamas, que se intensificou em 7 de outubro de 2023, marca mais uma fase de tensão no Oriente Médio. O Hamas, um grupo militante palestino classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e vários países europeus, lançou uma ofensiva coordenada contra Israel, envolvendo ataques a civis, sequestros e o lançamento de foguetes. Esse ataque, o maior em anos, provocou uma resposta militar imediata por parte de Israel, que resultou em bombardeios na Faixa de Gaza e a declaração de guerra pelo primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.
Este episódio é apenas um capítulo de uma longa história de conflitos entre Israel e os grupos palestinos, que remonta à fundação do Estado de Israel em 1948 e à subsequente disputa por territórios, especialmente Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Embora muitos conflitos tenham ocorrido desde então, este recente ataque do Hamas reacendeu a violência de uma maneira sem precedentes.
Origem do Hamas e do Hezbollah
O Hamas, sigla para “Movimento de Resistência Islâmica”, foi fundado em 1987, durante a Primeira Intifada — um levante palestino contra a ocupação israelense. A organização surgiu como uma ramificação da Irmandade Muçulmana, com o objetivo de combater Israel e estabelecer um Estado palestino islâmico. Embora inicialmente tivesse uma ala militar e outra política, a linha entre essas duas dimensões tornou-se tênue ao longo do tempo. Em 2006, o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas e assumiu o controle da Faixa de Gaza, desafiando a autoridade da Autoridade Palestina, que governa partes da Cisjordânia. Desde então, o Hamas se consolidou como a força dominante em Gaza, apesar do bloqueio imposto por Israel e do isolamento político internacional devido ao seu envolvimento em ataques violentos.
Já o Hezbollah, fundado em 1982 no Líbano, é uma organização xiita que surgiu com o apoio do Irã durante a guerra civil libanesa e a invasão israelense no Líbano. O nome “Hezbollah” significa “Partido de Deus”, e o grupo se apresenta como uma resistência contra a ocupação estrangeira, principalmente a israelense. Além de sua ala militar, o Hezbollah tem uma forte presença política no Líbano e provê serviços sociais e infraestrutura para as comunidades xiitas do país. É classificado como uma organização terrorista por países como Estados Unidos, Israel, Reino Unido e Arábia Saudita, mas goza de apoio popular considerável no Líbano e em outros países do mundo muçulmano.
Envolvimento do Irã no Conflito
O Irã desempenha um papel central no financiamento e no fornecimento de armamento tanto ao Hamas quanto ao Hezbollah. Como um dos maiores patrocinadores do Eixo da Resistência — uma aliança informal de países e grupos no Oriente Médio que se opõem a Israel — Teerã tem, ao longo dos anos, fornecido recursos, treinamento militar e tecnologia de mísseis para ambos os grupos.
Essa relação é parte de um jogo geopolítico mais amplo no Oriente Médio, em que o Irã busca aumentar sua influência na região e se posicionar como uma potência xiita contra os estados sunitas e seus aliados ocidentais, como os Estados Unidos e Israel. Além de apoiar o Hamas e o Hezbollah, o Irã tem vínculos com outros grupos pró-iranianos na Síria, no Iraque e no Iêmen, que também fazem parte do Eixo da Resistência. Esses grupos frequentemente lançam ataques contra Israel e seus aliados, exacerbando ainda mais as tensões regionais.
O Escalar do Conflito em 2023
A ofensiva do Hamas em outubro de 2023 marcou um novo nível de violência na região. Os ataques do grupo palestino resultaram na morte de centenas de civis israelenses e na captura de vários reféns. Em resposta, Israel lançou uma série de bombardeios intensos contra a Faixa de Gaza, atingindo não apenas alvos militares, mas também áreas densamente povoadas. O número de baixas entre os civis palestinos aumentou rapidamente, o que gerou uma onda de protestos internacionais e pedidos de cessar-fogo, especialmente por parte de organizações humanitárias e de alguns governos.
A escalada do conflito não se limitou à Faixa de Gaza. Israel também intensificou seus ataques no sul do Líbano, visando alvos do Hezbollah, em resposta aos lançamentos de foguetes e mísseis provenientes do território libanês. Em meio a esses confrontos, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, foi morto em um ataque aéreo israelense, junto com outros 20 comandantes do grupo. Essa ação sinalizou um aumento da retaliação israelense e uma possível expansão do conflito para o Líbano.
A Possibilidade de um Confronto com o Irã
O envolvimento direto do Irã no conflito de 2023 tornou-se mais evidente quando Israel acusou Teerã de orquestrar ataques aéreos contra seu território. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, prometeu vingança, afirmando que o Irã pagaria um alto preço por seus ataques. Esse discurso deixou a comunidade internacional em alerta, pois um confronto direto entre Israel e o Irã teria consequências devastadoras para a estabilidade do Oriente Médio.
Embora o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenha se oposto a um ataque israelense às instalações nucleares iranianas, ele reconheceu o direito de Israel de se defender de maneira proporcional. No entanto, a tensão permanece alta, com a possibilidade de um confronto direto entre as duas potências regionais ainda pairando no ar.
A Reação Internacional
A resposta internacional ao conflito tem sido mista. Enquanto alguns países condenam a violência por parte do Hamas e do Hezbollah, outros têm criticado duramente as ações de Israel, especialmente no que se refere aos bombardeios em áreas civis na Faixa de Gaza. O Brasil, por exemplo, manteve uma postura cautelosa, ainda sem uma manifestação oficial clara até o início de outubro de 2023.
O Itamaraty tem monitorado de perto a situação dos brasileiros na região, especialmente no Irã e no Líbano, países diretamente afetados pelo conflito. A Força Aérea Brasileira (FAB) foi acionada para repatriar cidadãos brasileiros do Líbano, com cerca de 3.000 já solicitando ajuda para deixar o país. Essa evacuação demonstra a seriedade da situação e a preocupação crescente com a segurança na região.
O conflito entre Israel, Hamas e Hezbollah em 2023 é parte de uma dinâmica complexa de poder e rivalidade no Oriente Médio, envolvendo questões religiosas, territoriais e políticas. O papel do Irã como financiador e apoiador desses grupos militantes tem ampliado o escopo do conflito, ameaçando uma escalada que poderia envolver outras nações da região. A resposta de Israel a esses ataques, tanto em Gaza quanto no Líbano, aponta para uma fase prolongada de violência e incerteza.
Com a comunidade internacional dividida em suas reações e o risco de um confronto direto entre Israel e o Irã, a paz na região parece, mais uma vez, estar distante.