No dia 11 de novembro de 1984, Brasília perdeu uma de suas vozes mais ousadas e corajosas. O jornalista Mário Eugênio Rafael de Oliveira, conhecido como Marão, foi brutalmente assassinado, aos 31 anos, no auge de uma carreira dedicada a revelar as complexidades da criminalidade na capital do país. Nascido em Comercinho, no interior de Minas Gerais, ele formou-se em comunicação social pela Universidade de Brasília (UnB) e rapidamente ganhou destaque no jornalismo policial, onde ousou expor as injustiças e o lado sombrio da cidade em que trabalhava.
Mário Eugênio trabalhava no Correio Braziliense, onde era o único repórter policial da redação, e também apresentava o programa de rádio Gogó das Sete na Rádio Planalto, líder de audiência em Brasília. Foi através desses meios que ele estabeleceu uma conexão direta com o público, mostrando um jornalismo incisivo e investigativo que, frequentemente, desafiava o poder estabelecido. Em suas reportagens, Mário não fazia distinção: denunciava com a mesma intensidade tanto os criminosos comuns quanto aqueles protegidos por cargos de autoridade.
O trabalho de Mário Eugênio, especialmente no programa de rádio, passou a incomodar muitos — inclusive as forças policiais do Distrito Federal, sobre as quais ele trouxe à tona acusações graves. Em uma de suas investigações mais polêmicas, denunciou que policiais, sob o comando do então secretário de Segurança Pública Lauro Rieth, estavam envolvidos em atividades de extermínio. Em uma época em que o Brasil ainda lutava para se libertar das amarras de uma ditadura militar que censurava e perseguia jornalistas, ele ousou expor o lado obscuro daqueles que deveriam proteger a população.
Por suas denúncias e coragem, Mário Eugênio foi ameaçado diversas vezes. No entanto, isso não o impediu de continuar, impulsionado por um senso de justiça único. Em uma ocasião, foi criticado por mostrar o lado humano de um criminoso, expondo sua vida difícil e os problemas familiares. Ele acreditava que a compreensão do contexto social era fundamental para uma análise mais justa dos indivíduos envolvidos na criminalidade. Sua abordagem humanizadora destoava do sensacionalismo, abrindo espaço para um jornalismo que buscava entender a raiz dos problemas sociais.
Na noite de 11 de novembro de 1984, Mário Eugênio foi alvejado com sete tiros na cabeça ao deixar a Rádio Planalto, no Setor de Rádio e Televisão Sul, em Brasília. O horário exato, 23h55, marca o momento em que o Brasil perdeu um dos seus jornalistas mais dedicados e comprometidos com a verdade. O assassinato de Marão é um marco doloroso da história da imprensa no país, evidenciando os riscos enfrentados por aqueles que se dedicam a expor a corrupção e a violência de setores que deveriam estar a serviço da sociedade.
Quarenta anos após sua morte, lembrar a trajetória de Mário Eugênio é essencial para a preservação da memória de um jornalismo combativo, feito com coragem e senso ético. Em tempos de retrocessos e ameaças constantes aos jornalistas, a história de Marão nos lembra do papel fundamental da imprensa na democracia e da importância de não permitir que a impunidade silencie as vozes que se levantam em nome da verdade e da justiça. A memória de Mário Eugênio nos convida a refletir sobre os desafios do jornalismo independente e a importância de dar continuidade a esse legado de coragem e integridade.