Os extensos desenvolvimentos tecnológicos ao longo do século XX deram o tom de como o futuro mercado de trabalho do século XXI se desenvolveu e continuará a se desenvolver. Por exemplo, a Terceira Revolução Agrícola aumentou a produção agrícola em todo o mundo e, especialmente, no mundo em desenvolvimento. Nesse período, muitas novas tecnologias e técnicas foram desenvolvidas, como fertilizantes químicos e agroquímicos, abastecimento controlado de água/irrigação e novos métodos de cultivo, incluindo a mecanização.
Seguindo essa linha, a revolução técnico científica (por volta de 1940-1970) trouxe inovações significativas, pavimentando o caminho para a revolução digital e da informação, também conhecida como a “Terceira Revolução Industrial” (por volta de 1975-2010). Essas eras não apenas trouxeram avanços tecnológicos que melhoraram o dia a dia das pessoas, mas também mudaram fundamentalmente a economia e o funcionamento do mercado de trabalho. A burocracia se expandiu e as indústrias desenvolveram atividades geradoras de informação, especialmente as chamadas funções de “Pesquisa e Desenvolvimento” (P&D). Além disso, a informação tornou-se um fator de produção, similar ao capital, trabalho, propriedade e economia, além de se tornar uma “mercadoria”, ou seja, um produto/serviço que os clientes estão dispostos a comprar no mercado aberto. À medida que a informação adquire um “valor de uso” e um “valor de troca”, ela também se torna um preço.
Progredindo além da “Terceira Revolução Industrial”, estamos na “Era da Informação”, ou “Quarta Revolução Industrial”, também conhecida como “Indústria 4.0” (por volta dos anos 2010 – presente). Esta era é marcada por avanços tecnológicos emergentes e desenvolvimentos em campos como robótica, inteligência artificial (IA), nanotecnologia, veículos autônomos, biotecnologia, Internet das Coisas (IoT), smartphones, Blockchain e impressão 3D, entre outros. A “Era da Informação” é intrinsecamente diferente das eras tecnológicas anteriores, pois seus principais avanços residem não apenas no surgimento de novas tecnologias, mas nos novos meios de comunicação e conectividade. Essas novas formas de tecnologias de comunicação permitem que bilhões de pessoas em todo o mundo se conectem via web, melhorando drasticamente a eficiência dos negócios e das organizações, além de promover uma melhor gestão de ativos por meio de um melhor acesso à informação.
A definição de IA tem muitas variações diferentes. Por exemplo, o Governo do Canadá (2019, para.28) define IA como:
“Tecnologia da informação que executa tarefas que normalmente exigiriam capacidade cerebral biológica para realizar, como dar sentido à linguagem falada, aprender comportamentos ou resolver problemas”.
A Comissão Europeia (2018), por outro lado, (tendo passado por algumas pequenas revisões nos últimos anos) tem uma definição um pouco mais longa:
“A inteligência artificial (IA) refere-se a sistemas que exibem comportamento inteligente, analisando seu ambiente e tomando ações – com algum grau de autonomia – para atingir objetivos específicos”.
Os sistemas baseados em IA podem ser puramente baseados em software, atuando no mundo virtual (por exemplo, assistentes de voz, software de análise de imagem, mecanismos de busca, sistemas de reconhecimento de fala e facial) ou a IA pode ser incorporada em dispositivos de hardware (por exemplo, robôs avançados, carros autônomos, drones ou aplicativos de Internet das Coisas).
Enquanto a definição canadense enfatiza a complexidade do sistema em auxiliar os humanos nas tarefas, a definição europeia coloca mais ênfase no design e comportamento inteligentes e autônomos do sistema. Dessa forma, a definição europeia de IA dá conta da possibilidade de uma evolução do comportamento da IA, de forma que acompanhe o avanço tecnológico. Ou seja, a IA não é uma “construção fixa.
Neste contexto, é oportuno mencionar também os termos “digitalização”, “digitalização” e “transformação digital”, uma vez que se tornaram “chavões” frequentemente utilizados em muitos negócios diferentes. No entanto, as terminologias às vezes são erroneamente usadas de forma intercambiável. O primeiro termo, “digitalização”, envolve a conversão de material analógico (como imagens, vídeo e/ou texto etc.) em formato digital. O segundo termo, “digitalização”, refere-se a um processo em que o uso da tecnologia digital/computacional (também aplicativos móveis) é adotado, alternativamente, aumentado por um ator . Na maioria das vezes, a tecnologia digital implementada com a intenção de estabelecer uma infraestrutura de comunicação que conecta várias atividades dos vários processos do ator. “Transformação digital”, por outro lado, é um termo consideravelmente mais amplo que significa transformação estratégica de negócios orientada pelo cliente, exigindo mudanças organizacionais abrangentes e transversais, além da implementação de tecnologias digitais.
Devido à sua abrangência, a transformação digital não é, na realidade, uma questão de implementar um projeto, mas sim toda uma série de projetos diferentes, efetivamente exigindo que a organização lide melhor com a mudança em geral. Dessa forma, a transformação digital por si só torna essencialmente a mudança organizacional uma competência central, na medida em que o empreendimento busca se tornar orientado ao cliente de ponta a ponta.
Por essa razão, “digitalização” e “transformação digital” são os dois termos mais úteis/significativos para explicar as mudanças e o impacto que a tecnologia digital teve na sociedade em geral. Ou seja, algoritmos inteligentes facilitam nossas tarefas do dia a dia e, em muitos casos, é quase impossível imaginar como poderíamos gerenciar sem eles. O uso de IA e robótica continua a ganhar força em um ritmo rápido, o que levanta a questão de como será o futuro do trabalho uma vez totalmente evoluído. A literatura existente sugere que a digitalização tem efeitos opostos sobre os mercados de trabalho e que, como tal, ainda não está claro quais efeitos uma sociedade digitalizada terá, em última análise, no mercado de trabalho.
O desemprego em massa, a pobreza e as distorções sociais serão uma consequência desse desenvolvimento ou pode haver um resultado diferente?
As mudanças tecnológicas e a digitalização do trabalho têm implicações profundas na sociedade. Vamos explorar algumas dessas consequências:
A automação e a digitalização podem levar à substituição de empregos por máquinas e algoritmos. Empresas que utilizam plataformas digitais muitas vezes contratam trabalhadores como “autônomos”, evitando obrigações trabalhistas e benefícios sociais.
Desigualdade de Oportunidades:
A exclusão digital amplia a desigualdade de acesso à educação e emprego. Enquanto alguns têm acesso a dispositivos e internet, bilhões de pessoas em países em desenvolvimento ainda estão excluídas.
Impacto na Saúde Mental: O desemprego e a precarização podem levar ao adoecimento da população, com problemas psicológicos em destaque.
Alternativas de Proteção Social:
Para enfrentar esses desafios, políticas sociais realistas devem proteger as transições ocupacionais dos indivíduos. Isso envolve combinar políticas de educação, renda e emprego, incluindo treinamento vocacional e medidas contributivas.
O futuro depende das escolhas que fazemos. Se adotarmos políticas inclusivas e investirmos em habilidades relevantes, podemos mitigar os impactos negativos e criar um cenário mais equitativo e sustentável.